'nda lá, 'nda láaa*

2012 foi um ano de merda**

Morreu - morreste-me - a pessoa mais espectacular que alguma vez pisou esta terra e com ela levou também uma parte substancial da minha pessoa. assim só porque eu via todos os dias a minha avó. e eu não sabia partir frango e era ela que o partia. e quando eu estava mal disposta ía ter com ela porque ela não me fazia perguntas e os outros faziam. e perdia tardes a mexer no roupeiro dela. e quando eu vestia alguma camisola dela, ela fazia questão de salientar que ía ficar sem roupa por minha causa. ela gostava que eu vestisse a minha roupa a roupa dela. e gostava que eu eu fosse dar o almoço ao meu avô. e que pelo caminho ficasse a insistir com ela também. e provava de todas as minhas experiências culinárias. e para ela estavam sempre boas. a minha avó achava piada a que eu soubesse fazer tricot e crochet. e chorou no natal de 2010 quando  eu lhe ofereci uma almofada (parece que estavam todos muitos ocupados). e perguntou porque é que eu em 2011 lhe dei chocolates e não outra almofada bonita. e tudo nela era autêntico. e por isso 2012 foi um ano de merda, porque em cerca de metade do ano eu estava triste demais para conseguir desfrutar da companhia da minha avó - e então era ela que me vinha fazer companhia - e na outra metade demasiado ocupada a conseguir digerir tudo.
Parece que hoje é natal. a minha avó vai ter sempre o lugar dela guardado junto à mesa dos pequenitos que era onde ela gostava de estar. e eu vou sentar-me ao seu lado a tentar digerir o natal. e desta vez não há presente para ninguém.



* frase dita e repetida até à exaustão pela minha avó.
**ocasionalmente digo palavrões como 'merda' e muito esporadicamente a palavra 'foder' - não porque seja feio, é só mesmo porque cada vez que me lembro o que 2012 foi consagrado o ano de maior merda de todo o sempre porque eu disse a palavra 'foder', sinto-me, logicamente, mal. sim, foi mesmo porque eu conjuguei  o verbo 'foder'.

1 comentário:

  1. eu tinha 11 anos quando me foi tirada a minha avó - a única que tive oportunidade de conhecer em vida. foi a 1ª vez que tive de lidar com a partida de alguém, assim, daquela forma. lembro-me do que me doeu, do que me dói, ainda, passados 14 anos. mas, lembro-me também dos momentos que passei com ela, dos beijos que ela me dava - ela dava os melhores beijinhos; lembro-me de como ela adorava trabalhar na terra e tratar da burra que tinha, como se fosse uma amiga. e quem lhe tirava essas duas coisas, tirava-lhe tudo. e a mim, quem me tirava os dois dias do fim-de-semana sem ir visitá-la, tirava-me tudo, também. gostava tanto de quando ela oferecia sempre o pouco que tinha, sem nunca tirar o sorriso da cara. tenho saudades de apanhar fruta com ela, de semear batatas com ela e sentir que isso era a melhor coisa no mundo...já não me lembro bem do som da voz dela, às vezes, mas mantenho-a junto a mim sempre - viva. de todas as recordações mais bonitas e alegres que guardo da minha infância, sei que ela mora em todas elas. e sei que de alguma forma, no meu dia-a-dia, ela também está viva na pessoa que sou. sei que há conversas, há o toque, há tudo que é palpável que não vai estar presente, mas nunca deixes de manter a tua avó viva em ti! e o próximo ano há-de ser com certeza muito bom, são mais ou menos os malmequeres: merda sim, merda não. i*

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